Inspiração
O espaço Inspiração reúne conteúdos que refletem a essência do Instituto Jama: promover conhecimento, valorizar educadores e fortalecer o papel transformador da educação nas comunidades.
Aqui, compartilhamos ideias, projetos e experiências que ampliam horizontes e convidam à reflexão sobre os caminhos da educação.
Mais do que informar, este é um espaço para inspirar — porque acreditamos que cada iniciativa, quando guiada por propósito, tem o poder de gerar impacto positivo e duradouro.
educação é o caminho
Jayme Sirotsky
entrevista com Rafael Parente,
autor do livro "O Professor Ampliado"
Para celebrar o Dia dos Professores, o Instituto Jama conversou com Rafael Parente, educador, pesquisador e autor do livro O Professor Ampliado: Reimaginando o Papel Docente na Era da IA. A obra propõe uma reflexão profunda sobre o papel do professor em um mundo em que a inteligência artificial, a criatividade humana e a ética caminham lado a lado.
Nesta entrevista, Rafael fala sobre os desafios e as oportunidades da educação contemporânea, a valorização docente e o futuro da profissão em um contexto em que ensinar continua sendo um dos maiores atos de amor e transformação social.
1. Rafael, o título do seu livro é inspirador. O que significa, na prática, ser um professor ampliado — alguém que combina sensibilidade humana e inteligência tecnológica?
Ser um professor ampliado é reconhecer que a tecnologia pode expandir — e não substituir — nossa humanidade. É aquele educador que usa a inteligência artificial como parceira de planejamento, diagnóstico, criação e reflexão, mas continua sendo o centro afetivo e ético da aprendizagem.
O professor ampliado não é o que tem mais aplicativos no celular, mas o que tem mais repertório para transformar dados em sentido e informação em sabedoria. Ele compreende que ensinar é um ato profundamente humano, mas agora mediado por novas linguagens e possibilidades. A tecnologia amplia a mente; o afeto, o vínculo e o propósito ampliam o coração.
2. Como o professor pode se aliar à IA sem perder sua essência humana, sua escuta e sua intuição?
A aliança entre professor e IA só funciona quando há consciência de papéis. A máquina processa padrões; o humano percebe o que não cabe nos padrões — o silêncio, o olhar, o gesto que denuncia o cansaço ou a curiosidade.
O professor ampliado aprende a usar a IA como um espelho cognitivo, não como um oráculo. Ele pode pedir ajuda à IA para personalizar trilhas de aprendizagem, gerar hipóteses, propor desafios, mas sabe que a intuição é o software que nenhuma máquina vai copiar.
Na prática, trata-se de combinar ciência e sensibilidade: dados que orientam decisões, e humanidade que as torna justas.
3. No Brasil, 53% dos alunos dizem valorizar seus professores, enquanto a média da OCDE é de 71%. Ao mesmo tempo, o uso da IA pelos docentes brasileiros é superior à média dos países mais ricos. O que explica essa combinação? É falta de formação ou sinal de coragem para inovar?
Acho que é um pouco dos dois, mas com uma boa dose de ousadia brasileira.
Temos uma docência marcada por adversidades estruturais, mas também por uma impressionante capacidade de improvisar, criar e fazer muito com pouco. Essa abertura para experimentar talvez explique por que tantos professores brasileiros já testam ferramentas de IA mesmo sem uma formação formal.
Ao mesmo tempo, a menor valorização revela o quanto ainda falta investir na dignidade e no reconhecimento social do magistério. Em um país que tantas vezes trata a educação como despesa, é bonito ver professores tratando a inovação como esperança. É uma forma de resistência criativa… e de coragem coletiva.
4. Que competências você considera essenciais para o educador que deseja se reinventar e florescer neste novo cenário educacional?
O professor que quer florescer na era da IA precisa cultivar tanto competências técnicas quanto socioemocionais.
Eu destacaria cinco:
Curiosidade científica para explorar o novo com método e discernimento.
Consciência ética, para usar a tecnologia a serviço da aprendizagem, nunca do controle.
Empatia ampliada, que enxerga o aluno como sujeito de experiências, não apenas de resultados.
Pensamento criativo e sistêmico, capaz de conectar áreas e resolver problemas reais.
Autoconhecimento, porque só quem se conhece pode mediar a jornada do outro.
Essas competências não substituem o conhecimento disciplinar, mas o ampliam; tornam o professor um arquiteto de experiências humanas num mundo de algoritmos.
5. Que mensagem você gostaria de deixar aos professores neste Dia dos Professores — especialmente àqueles que continuam acreditando que ensinar é um ato de amor e transformação social?
Ensinar é um gesto de esperança teimosa. É acreditar que cada encontro em sala de aula pode gerar uma faísca que muda destinos.
Neste Dia dos Professores, eu gostaria de lembrar que a IA pode aprender rápido, mas só o professor ensina com amor. Que a tecnologia pode multiplicar o alcance, mas só o professor transforma o sentido.
O futuro da educação não será feito por máquinas inteligentes, mas por pessoas ampliadas, que unem razão e emoção, ciência e poesia, código e cuidado.
O professor ampliado é aquele que, mesmo cansado, segue acreditando que o impossível é apenas o que ainda não foi tentado.