Trabalho em rede foi destaque no debate
Parceira do Instituto Jama na implementação da Metodologia Lumiar, a Aldeia da Fraternidade de Porto Alegre promoveu na sexta-feira, 30, o evento denominado Aldeia e o Futuro, para projetar a educação pós-pandemia. Participaram do encontro online como convidados a consultora executiva do Instituto, Janaina Audino, e o empreendedor social Jefferson Quirino, coordenador do projeto Favela Radical, que utiliza esportes como surf e escalada para educar crianças no Morro do Turano, no Rio de Janeiro.
Com a mediação do diretor voluntário Tomas Edson Silveira Rodrigues e participação especial do conselheiro Fausto Vanin, integrantes do quadro diretivo da Aldeia, os debatedores falaram sobre suas respectivas atividades sociais, elegendo como ponto comum de grande relevância o trabalho em rede.
– Quando o setor público, o setor privado e as organizações sociais atuam conjuntamente, a educação sai fortalecida – reconheceu a especialista em Gestão Educacional Janaina Audino.
Líder do projeto Favela Radical, que propõe soluções inovadoras para os desafios sociais de uma das comunidades mais carentes do Rio de Janeiro, Jefferson Quirino concordou e deu um exemplo prático que está produzindo excelentes resultados:
– Desde que passamos a participar da rede Gerando Falcões, em 2018, começamos a enxergar outras instituições e o trabalho conjunto deslanchou.
Líder comunitário reconhecido, Jefferson utiliza sua própria experiência de recuperação para justificar seu projeto social. Expulso do serviço militar por causa do uso de drogas e com várias passagens pela polícia, ele aproveitou uma oportunidade para mudar de vida e para fundar uma instituição que está salvando crianças e adolescentes da marginalidade e do crime.
– No dia em que subi numa prancha de surf, percebi que ali estava a minha ferramenta da transformação.
O Morro do Turano está localizado a 10 quilômetros da praia, mas Jefferson conseguiu atrair meninos e meninas para um esporte aquático e para outras atividades esportivas que seu projeto contempla: surf, escalada e skate.
– As pessoas em vulnerabilidade social não precisam apenas de uma segunda oportunidade. Precisam de tantas oportunidades quanto se puder dar a elas. Se o aluno sair do projeto mil vezes, mil vezes nós vamos atrás dele para trazê-lo de volta.
Sua fala foi reforçada por Janaina Audino:
– A questão social ainda está muito ligada ao assistencialismo. No momento em que vocês a tratam como oportunidade, muda tudo. Todo ser humano precisa se desenvolver.
Tomas Edson garantiu que a Aldeia da Fraternidade utiliza estratégia semelhante:
– Neste período de quase oito meses de isolamento causado pela pandemia, nossas equipes procuraram as famílias dos alunos para ver como tudo isso está sendo impactado na vida de cada criança.
A fórmula da Favela Radical para evitar a evasão tem dois pontos principais, segundo Jefferson:
– Primeiro, o papo reto. A gente diz: “O traficante te oferece tanto, mas tem um preço. Se ficar conosco, vai demorar mais tempo, mas não vamos te pedir nada em troca a não ser o teu comprometimento”. Segundo, a proximidade. Atrasou 30 minutos, ligamos para a família para saber o que houve. Às vezes tá faltando uma camisa lavada, às vezes tem violência familiar. Mas eles veem que estamos interessados.
Para projetar o futuro, o educador social carioca utilizou uma metáfora:
– Estamos plantando tâmaras. Talvez a gente não veja a colheita, mas alguém verá.